mercúrio ardente

você está completando trinta anos e em breve eu começo a viagem para perto de você. chego no final da data, mas chego. em dois mil e catorze, cheguei um dia depois do seu aniversário de dezenove anos. no dia do aniversário, você nadou até um barco muito longe no mar. fiquei impressionada com isso à época, fico impressionada até agora. você é miudinha, em tamanho físico, embora imensa em todo o resto. penso nos seus braços magros vencendo as ondas. penso no cansaço e na glória de tudo. eu amo o mar, e temo. não consigo me afastar muito da costa, da areia, quando os pés começam a flutuar demais já sou tomada por um grande pânico. por conta de todas as histórias do litoral esburacado de fortaleza, talvez. estar em segurança e um segundo depois, não estar mais. talvez não seja nada disso, nada além de medo e receio dessa imensidão misteriosa, alerta, calma, violenta e, acima de tudo, indiferente. eu carrego o mar no nome e no sol, você é toda feita de ar e chuva, mutável, quem sabe por isso menos medrosa, ou já aprendeu desde muito, muito pequena que não adiantava o medo. penso em você completando dezenove anos e cruzando as ondas. penso em como deve ter sido o caminho de volta, o ardor nos braços ao enfim chegar na areia. penso que já faz onze anos disso, e que nos encontramos em outros lugares depois, todos mundo longe do mar. você está completando trinta anos. como era a conta? você me conheceu um ano antes de eu te conhecer, então você está há quinze anos comigo? e eu há catorze com você. conta injusta, queria ter conhecido antes, quinze anos, dezesseis, dezessete, quem sabe. ainda assim, todos esses anos, uma carregando a outra no coração e na ideia. olha só, a gente cresceu e não é mais adolescente. isso já é verdade há tanto tempo, e agora parece ainda mais verdade, os trinta anos. você, com trinta anos. ó pra isso! penso nos seus olhinhos, sempre seus olhinhos lindos, sanpaku? falávamos dos olhos de tragédia, os três brancos, olhos que anunciavam alguma dor. e também seus olhinhos de ressaca, capitu de mãos dadas com maria serafina. sem tragédias e sem tragadas, penso nos seus olhinhos com amor e com carinho, eles lindos, você linda, a sua voz, o jeito que suas mãos mexem no cabelo enquanto você me conta algo. estar ficando maluca e não estar ficando maluca. ser e não ser maluca. sinto sua falta o tempo todo e te amo o tempo todo, amo tanto que basta pensar um pouco no amor que meus olhinhos pequenos e sem dramas adicionais se enchem de lágrimas. eu amo você, eu amo você. tenho vontade de ser um lugar seguro, um beijo nos joelhos, um abraço forte, um refúgio, um respiro, um carinho. você está completando trinta anos hoje, trinta anos! imagine só. continuaremos andando juntinhas, coalinhas dormindo nas costas uma da outra. sempre ligadas, ainda que distantes. ansiosa pelos próximos dez, pelos próximos vinte, trinta anos, e conhecer você, e reconhecer você, e estar sempre na expectativa real de que vou te ver ainda mais uma vez. feliz aniversário, minha amor, o que mais eu poderia fazer se não uma viagem até você e um post de blog? as coisas que são tão nós. os caminhos e as palavras, que começam e a gente nem sabe pra onde vão, mas sabemos algumas das coisas que vamos encontrar. seus olhinhos nos meus e suas mãos nas minhas. te amo para sempre, para sempre. 

mercúrio ardente

você está completando trinta anos e em breve eu começo a viagem para perto de você. chego no final da data, mas chego. em dois mil e catorze...