domingo à noite dá vontade de roer o braço
primeiro eu quero falar de sexo
tem algo realmente prazeroso em me dar a liberdade de escrever com uma frequência ridícula e absurda textos que não servem pra nada. tudo é sempre muito mais gostoso que a dissertação de mestrado. é engraçado que por essa página, dá até pra acessar meu blog da adolescência e constatar minha constância. o que isso tem a ver com sexo? bom, faz parte ter uma introdução.
eu acho que sou uma pessoa meio "sexo [emoji de coração]". mas não de um jeito emoji de berinjela emoji de lábio sendo mordido emoji de pêssego emoji de gotas de água. mais de um jeito emoji de folha emoji de sol emoji de risadinha encoberta emoji de coração incendiado. tem um tweet que diz que sexo é a coisa séria mais engraçada que existe. um tweet muito querido. não sei como encontrá-lo. enquanto escrevo isso, deveria estar fazendo coisas do trabalho. a livraria está uma bagunça e isso me aflige. eu não tenho problemas com bagunças, no geral. mas aqui eu tenho. não deveríamos ser uma loja apresentável?
acho que eu demorei muito a gostar de sexo, ao mesmo tempo em que eu gosto de sexo desde que comecei a fazer. isso é. eu gostava de sexo quase como uma experiência sociológica externa ao meu corpo. isso denuncia que eu não sentia muito prazer transando. mas sentia uma outra espécie de prazer, que eu poderia dizer que é o prazer da observação. essa frase talvez me denuncie muito, mas é legal ver pessoas transando. também é legal ver pessoas transando comigo. eu costumava falar que eu valorizava muito mais beijar na boca do que transar, e não via a escala que costuma aparecer na mente das pessoas: beijos são a porta de entrada para o que vem de verdade. beijos são um fim neles mesmos. e beijos são uma delícia. e também são sexuais à beça.
houve uma mudança paradigmática (eu posso usar essa palavra assim, aqui? as palavras sempre me causam tantas dúvidas) e agora eu posso dizer que sou uma pessoa sexo seguida de todos aqueles emojis já citados e que gosta de sexo para além da mera observação do prazer. que segue ainda sendo um prazer.
eu tenho um grande defeito: um registro único. isso quer dizer que minha forma de enunciação é praticamente invariável. claro, no dia a dia, falando, as coisas são diferentes, mais ligeiras. mas é como eu falei no post anterior: tweets, posts de blogs, mensagens de texto, a dissertação. eu falo desse jeito, eu meio que sou desse jeito. eu gosto de falar. eu gosto de ouvir, também! parece engraçado dizer isso agora, que eu estou repetindo talvez em todos os posts que gosto de falar. é que eu estou falando, logo, a atividade que eu lembro. eu gosto de ouvir. não se perder nada por ouvir, diz alguém em alguma altura d'os detetives selvagens (eu anotei). às vezes se perder por ouvir, sim, mas também se perde muito mais por falar, então imagino que faz parte.
gostar de falar e gostar de ouvir se resume em gostar de conversar. e gostar de sexo é um pouco também gostar de conversar, para mim. não no sentido da conversa entre corpos ou uma frase meio vergonhosa do tipo, embora também seja isso. será que é ridículo que eu seja tão tagarela que eu ache que um dos prazeres do sexo também é uma possível elaboração mental ali, que não precisa ser enunciada, que depois de tempo deixa completamente de ser... mas que também é possível de... não sei... será que eu deveria tentar reformular tudo o que estou querendo dizer? mas aí era supor que eu estou querendo dizer algo, quando eu só estou falando abobrinhas.
eu gosto de ler porque eu gosto de me divertir e ler é me divertir. mesmo quando eu estou lendo um livro que me faz chorar e sofrer e soluçar e sentir dor de cabeça de tantas lágrimas vertidas, ainda tem alguma diversão nisso. é uma outra espécie de dor, essa da ficção. dói de verdade ao mesmo tempo que é de mentirinha. uma dor com segurança. dói muito, você fica transtornado diante de um livro!, mas existe um limite, claro, e essa dor é diversão, porque você acaba de ler um livro que dilacera, vira para seus amigos e diz: vocês precisam ler isso!
eu gosto de me divertir e o melhor sexo (para mim!) é aquele que me diverte de alguma maneira. nada de comer carne de palhaço durante, não é nem mesmo sobre dar ou não risada. mas é algo além da... performance. o que é a performance? deus é que sabe. acho que estou pensando em uma seriedade fabricada, expressões congeladas de tesão, uma cartilha a seguir, algo meio engessado. transar é legal quando você conversa e quando você pergunta e quando você responde. com ou sem palavras.
será que eu estou sendo ridícula? falando demais? não falando de nada? falando coisas sem sentido? talvez. mas eu estou me divertindo, até. e você? está se divertindo?
horrível ter que trabalhar quando minha verdadeira vocação é escrever tweets
eu não sei o porquê, mas toda vez que eu escrevo, sempre sinto que parece que estou falando muito sério. às vezes, eu estou falando muito sério. mas eu sei como é que eu existo todos os dias e no fim das contas, eu sou apenas mais uma cearense. o país da comédia. e tudo o mais.
escrever um blog é como escrever um diário e escrever um diário é melhor do que escrever uma dissertação. chega a ser ridículo o quão difícil está sendo o processo de escrever a dissertação. acho quase engraçado, como achamos engraçados nós mesmos fazendo alguma burrice. é tão difícil assim mesmo? e todo mundo concorda que é. e todo mundo concorda que a única forma de lidar é de fato escrevendo. e eu me deparo com o motivo do meu riso, que é: eu gosto de escrever, afinal. escrever é muitas vezes um prazer. e escrever é muitas vezes também uma dor prazerosa. na dissertação, não. escrever é apenas uma dor. um parágrafo demora muito, muito tempo. se eu sempre tivesse tido dificuldades com meus textos acadêmicos, vá. entenderia que isso faz parte do processo. por outro lado, pode ser que eu seja apenas uma criancinha mimada pelo próprio cérebro, que sempre teve facilidade fazendo uma coisa e agora está descobrindo que nem sempre é fácil assim. e por isso choramingando.
muita gente fala sobre o desejo de aprender algo e a desmotivação de não ser bom imediatamente naquilo. acho que escrevi essa frase de um jeito errado. o desejo de aprender algo pressupõe que você não vai ser imediatamente bom naquilo, logo, o desejo não é de aprender. o desejo é de fazer. eu quero fazer minha dissertação. eu não quero aprender a fazer uma dissertação. e aí lembro do riobaldo (coitado, ou coitada de mim) dizendo que aprender a viver é que é viver mesmo. então é por isso que viver é muito etcetera. e escrever uma dissertação é mais ou menos etcetera também.
esse é meu diário para registrar uma falha. faz uns quatro ou cinco ou seis dias que eu não escrevo um parágrafo da dissertação. mas estou escrevendo isso aqui. e com vontade de escrever outras coisas. senti vontade de narrar outros sonhos. tão pessoal, contar meus sonhos na internet. então eu desisto de contar porque os sonhos mais interessantes são também algo ridículos. muitos desejos em sonhos. mais fácil compartilhar os desejos estando acordada. parar de chorar sobre a dissertação e escrevê-la.
uma coisa que pode ou não ser bacana na minha dissertação é que eu não amo o livro sobre o qual eu pesquiso. mas eu gosto de pensar no que penso a partir dele. também me parece bobo que eu, que me apaixono tanto pelas coisas, tenha eleito como objeto de pesquisa algo que me faz dar um sorriso amarelo toda vez, mais uma falha, "eu não amo isso que eu deveria amar". meu orientador diz que é bom, que aí eu chego meio desconfiada no texto. em alguma medida deve ser bom mesmo. eu apaixonada sou uma tola, todos sabemos, ou, se não sabemos, intuímos. mas também ainda parece mais engraçado eu falar que gosto do que penso a partir desse livro que eu não amo. viciada em mim mesma. ao mesmo tempo, não é isso também, pesquisar? você pode se apaixonar pelo seu objeto, mas você se apaixona também pela ideia que ele te dá. eu imagino. talvez.
semana passada, estive em um bar (o culto rock bar! rindo) com a maior crítica literária em atividade no país (opinião indiscutível), e ela me disse: eu sou você amanhã. imagine só. um grande afago no ego. nesse mesmo lugar, um amigo escritor me disse que eu quero ser uma educadora, mas sou uma esteta. achei isso impressionante e engraçado. estou sempre querendo servir a deuses demais! quero ser uma educadora e uma esteta.
parece que eu estou falando muito sério? sempre parece que estou falando muito sério. se desse pra ouvir minha voz, daria pra ouvir o riso no fundo, um pouquinho de gaiatice. o país da comédia, de onde eu venho. minha amiga carol sugeriu que eu escrevesse minha dissertação como uma thread de twitter, o meu melhor lugar de elaboração de pensamento. o melhor e o pior de tudo é que eu sinto que em todo lugar eu escrevo desse jeito. sempre soo assim. outra das coisas que me disseram semana passada: um escritor, outro, anunciou que causava um pequeno choque cognitivo dele o fato de eu falar no mundo real que nem eu falo no twitter. uma outra ocasião, uma amiga minha, rafaela, falou algo parecido. que ela sentia que me ler na internet era como falar comigo. será que meu cérebro está completamente corroído por essa linguagem? eu sou como sou no real dos dias na internet, ou a internet moldou o meu real dos dias?
talvez as duas coisas. quem sabe. desde a tenra infância eu fui muito carismática. o carisma é a arte da comunicação. estou gargalhando escrevendo isso. por favor, não levem a sério. a não ser, claro, o desespero do mestrado.
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