horrível ter que trabalhar quando minha verdadeira vocação é escrever tweets

eu não sei o porquê, mas toda vez que eu escrevo, sempre sinto que parece que estou falando muito sério. às vezes, eu estou falando muito sério. mas eu sei como é que eu existo todos os dias e no fim das contas, eu sou apenas mais uma cearense. o país da comédia. e tudo o mais. 

escrever um blog é como escrever um diário e escrever um diário é melhor do que escrever uma dissertação. chega a ser ridículo o quão difícil está sendo o processo de escrever a dissertação. acho quase engraçado, como achamos engraçados nós mesmos fazendo alguma burrice. é tão difícil assim mesmo? e todo mundo concorda que é. e todo mundo concorda que a única forma de lidar é de fato escrevendo. e eu me deparo com o motivo do meu riso, que é: eu gosto de escrever, afinal. escrever é muitas vezes um prazer. e escrever é muitas vezes também uma dor prazerosa. na dissertação, não. escrever é apenas uma dor. um parágrafo demora muito, muito tempo. se eu sempre tivesse tido dificuldades com meus textos acadêmicos, vá. entenderia que isso faz parte do processo. por outro lado, pode ser que eu seja apenas uma criancinha mimada pelo próprio cérebro, que sempre teve facilidade fazendo uma coisa e agora está descobrindo que nem sempre é fácil assim. e por isso choramingando. 

muita gente fala sobre o desejo de aprender algo e a desmotivação de não ser bom imediatamente naquilo. acho que escrevi essa frase de um jeito errado. o desejo de aprender algo pressupõe que você não vai ser imediatamente bom naquilo, logo, o desejo não é de aprender. o desejo é de fazer. eu quero fazer minha dissertação. eu não quero aprender a fazer uma dissertação. e aí lembro do riobaldo (coitado, ou coitada de mim) dizendo que aprender a viver é que é viver mesmo. então é por isso que viver é muito etcetera. e escrever uma dissertação é mais ou menos etcetera também.

esse é meu diário para registrar uma falha. faz uns quatro ou cinco ou seis dias que eu não escrevo um parágrafo da dissertação. mas estou escrevendo isso aqui. e com vontade de escrever outras coisas. senti vontade de narrar outros sonhos. tão pessoal, contar meus sonhos na internet. então eu desisto de contar porque os sonhos mais interessantes são também algo ridículos. muitos desejos em sonhos. mais fácil compartilhar os desejos estando acordada. parar de chorar sobre a dissertação e escrevê-la.

uma coisa que pode ou não ser bacana na minha dissertação é que eu não amo o livro sobre o qual eu pesquiso. mas eu gosto de pensar no que penso a partir dele. também me parece bobo que eu, que me apaixono tanto pelas coisas, tenha eleito como objeto de pesquisa algo que me faz dar um sorriso amarelo toda vez, mais uma falha, "eu não amo isso que eu deveria amar". meu orientador diz que é bom, que aí eu chego meio desconfiada no texto. em alguma medida deve ser bom mesmo. eu apaixonada sou uma tola, todos sabemos, ou, se não sabemos, intuímos. mas também ainda parece mais engraçado eu falar que gosto do que penso a partir desse livro que eu não amo. viciada em mim mesma. ao mesmo tempo, não é isso também, pesquisar? você pode se apaixonar pelo seu objeto, mas você se apaixona também pela ideia que ele te dá. eu imagino. talvez.

semana passada, estive em um bar (o culto rock bar! rindo) com a maior crítica literária em atividade no país (opinião indiscutível), e ela me disse: eu sou você amanhã. imagine só. um grande afago no ego. nesse mesmo lugar, um amigo escritor me disse que eu quero ser uma educadora, mas sou uma esteta. achei isso impressionante e engraçado. estou sempre querendo servir a deuses demais! quero ser uma educadora e uma esteta. 

parece que eu estou falando muito sério? sempre parece que estou falando muito sério. se desse pra ouvir minha voz, daria pra ouvir o riso no fundo, um pouquinho de gaiatice. o país da comédia, de onde eu venho. minha amiga carol sugeriu que eu escrevesse minha dissertação como uma thread de twitter, o meu melhor lugar de elaboração de pensamento. o melhor e o pior de tudo é que eu sinto que em todo lugar eu escrevo desse jeito. sempre soo assim. outra das coisas que me disseram semana passada: um escritor, outro, anunciou que causava um pequeno choque cognitivo dele o fato de eu falar no mundo real que nem eu falo no twitter. uma outra ocasião, uma amiga minha, rafaela, falou algo parecido. que ela sentia que me ler na internet era como falar comigo. será que meu cérebro está completamente corroído por essa linguagem? eu sou como sou no real dos dias na internet, ou a internet moldou o meu real dos dias?

talvez as duas coisas. quem sabe. desde a tenra infância eu fui muito carismática. o carisma é a arte da comunicação. estou gargalhando escrevendo isso. por favor, não levem a sério. a não ser, claro, o desespero do mestrado. 


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