sonhei que namorava o peter capaldi
ele era mineiro no sonho. estávamos em uma festa na casa de minha amiga sacha. peter capaldi queria me tornar imortal, sendo ele mesmo imortal. essas informações sonhadas são sempre interessantes: no sonho, nada é de fato apresentado. quem sonha sabe. então eu sei que o peter capaldi era mineiro. sei que ele era imortal. sei que ele queria fazer um procedimento comigo que também me imortalizaria. a casa da sacha não é a real casa da sacha, mas é a casa da sacha. peter capaldi apertava meu tornozelo e eu sentia uma dor aguda e boa. será que era uma cãibra?
algo que me interessa nos sonhos. mais do que a experiência vivida, está tudo na forma de contar. digo mais porque, evidentemente, a experiência vivida também está na forma de contar. como você conta dela para si mesmo, como você conta dela para os outros. só que a experiência vivida, geralmente, está relacionada a outras pessoas também, que narram para si e para outras de formas diferentes. uma coisa que sempre me impressiona em clubes de leitura é a variedade de maneiras de ler. a variedade daquilo que chama atenção. leitura, sonho, experiência. vamos voltar ao sonho.
no sonho, (supostamente) é só você. narrar um sonho é tentar ordenar o que não é ordenável. é tentar explicar o que está dado, e o que está dado geralmente não faz sentido algum. sonhei que estava em uma cidade que não era fortaleza, mas era fortaleza. sonhei que conversava com uma ex-namorada, inexistente, do meu ex-namorado. sonhei que o antonio candido era o belchior e o antonio candido. sonhei que um conhecido meu era um velho ranzinza. sonhei que namorava o peter capaldi, e ele era mineiro. muito do sonho é sentir e saber das coisas. contar um sonho é escolher aquilo que mais chama atenção, porque sonhos se desdobram em vários pequenos detalhes, inapreensíveis, que estão tão evidentes quando você sonha e até mais ou menos evidentes quando você acorda; mas que vão se esvaindo com o passar do dia, ou que parecem não fazer sentido de narrar, afinal, seria difícil demais entrar na tangente explicando que na casa da minha amiga sacha do sonho tinham muitas outras pessoas, porque era aniversário dela, e em algum momento a casa era um prédio, e íamos até a portaria, e pegávamos uma caixa, e corríamos perigo.
não consigo explicar o perigo.
sempre sonho muito, desde criança. lembro bem de um dos pesadelos que tive na infância, marcante. a casa da minha avó em sobral. minha mãe me esperava perto da janela da cozinha, no final de um longo e escuro corredor, que dava para um escuro e largo quintal. quando eu chegava perto, não era minha mãe, era uma criatura monstruosa, o monstro da cozinha (foi difícil largar o medo das cozinhas e sua escuridão silenciosa depois). eu tentava fugir. o coelhinho do nesquik (eu não tomava nesquik) aparecia pra me ajudar.
na escola, sonhava muito com a escola. a escola era um aquário. uma nave espacial. um campo de guerra. uma fanfic. qualquer coisa, mas sempre a escola. sonho muito com outras coisas agora. sempre me pareceu importante lembrar dos sonhos, contá-los a alguém. desde criança, gosto muito de ler. sempre me pareceu bom conversar sobre os livros que lia, ouvir sobre os livros que os outros liam. desde criança, também, gosto muito que as coisas aconteçam comigo. as boas, principalmente, as ruins, até certo ponto. as ruins divertidas são as melhores, claro, depois é possível contá-las com um sorriso no rosto, passado o tempo certo, sem cicatrizes ou só as menores. as ruins realmente ruins demandam outro tipo de narrativa.
gosto de falar das coisas. fiz meu primeiro blog, um livejournal, com doze? treze? anos. pouco antes disso, já tinha começado nas fanfics. pouco antes disso, as professoras de português gostavam das minhas redações. pouco antes disso, antes de dormir, imaginava que eu era namorada do harry potter e construía toda nossa história na minha cabeça. escrever tem o mesmo efeito de narrar um sonho, você precisa ordenar aquilo que é dado, ou pressentido, ou imaginado. ou nada é dado, e você precisa ordenar a dúvida, elaborá-la. ou algo assim.
ah, sim, um detalhe que faltou: o peter capaldi beijava bem à beça no sonho.
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