disse a você que poderia escrever parágrafos sobre te ver beijando outras pessoas. é mais do que isso, claro, sempre é: penso em você se mexendo em festas, dançando, beijos na boca inclusos. você com um sorriso brincalhão, contido, safado, bonito. você e suas decisões feitas com receio e com gosto: para onde ir, que filme ver, com quem encontrar, o que dizer. tudo entre o prazer e a dor. queria me desfazer do ânimo de ser narradora, parar de observar desse jeito, você não é um personagem e ainda assim acho irresistível e inevitável esse olhar, sorrir diante do seu sorriso, coração acelerado junto com o seu às sete e meia da noite, ouvir suas palavras com a vontade de registrá-las; querer viver todas as coisas, querer viver pra sempre. digo a você que reza de homem profano é mais forte. digo a você que você é o príncipe da luxúria, um vereador numa terra sem vereadores. digo a você: não seja cruel. dizem a você que você é o bataille do cerrado. digo a você, dizem a você: um monte de palavras de outras pessoas se acumulando ao seu redor, criando sentidos, fabricando percepções. queria desfazer tudo, a minha e as dos outros, deixar só as suas ou só as que valem a pena. chega de palavras, vamos aos gestos, e ainda assim, gosto tanto das suas palavras hesitantes e tão pensadas, gosto ainda mais das impensadas, os gestos condenáveis, todas as broncas que você leva por mau comportamento no parquinho. eu não sou narradora, mas se fosse, você não é personagem, mas se fosse – um destino selado e traçado da evidente predileção, o carinho narrativo, narradora e leitores se apaixonando juntos, página a página. sempre é tão bom por os olhos em você, melhor ainda notar como os outros também gostam, um mundo cheio de pessoas desconhecidas que estão sempre te cumprimentando. de onde vem tanta gente? ou da burocracia ou da esbórnia. sinto vontade de perguntar: posso ser sua amiga? como se já não fosse; posso chegar perto?, como se já não estivesse perto. uma fascinação estranha e interessante. dez parágrafos sobre o prazer de ver você beijar outras pessoas condensados em algumas frases: como suas mãos se mexem, seus olhos fechados, eu sempre gostei do desejo, você se torna eros – o desejo dos outros e o seu misturados, algo novo e brilhante. coloco minhas mãos no seu rosto e digo que te amo tanto. dou risadas enormes do seu lado, você é cheio de absurdos. brinco de quebra-cabeça com o que você me conta. imagino você adolescente, impossível adolescente, com as mãos trêmulas? suadas? com a ansiedade batendo no fundo da sua garganta? o papel na mão, o recado: ele gosta de garotos, o que você sentiu? alívio, tontura? anos depois, outro papel, outro recado, e agora? tormento, tesão? o que você pensa e o que você sente, do que você tem medo e do que você tem gosto: eu quero saber. você fecha os olhos e deixa que uma criança desenhe seu rosto com caneta vermelha, permanente, permanente também o seu sorriso. a criança olha o próprio trabalho e diz: você é igual a deus. a crítica literária que puxa você para um beijo na alta madrugada, mais uma história que só podia ser sua, sua, sua. vai deixando seus pedacinhos com os outros no caminho, tanto de você espalhado por aí no canto da boca e em tantos suspiros. tem espaço ainda? queria ter chegado antes, e também não queria. gosto da hora que é e como é. você – bonito e doido, tempestade no meio da tarde. fica aqui pertinho que eu gosto de te olhar.
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