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Mostrando postagens de julho, 2024

rock de pai

eu sou um certo tipo de nepobaby  que existe no brasil. isso é, não sou herdeira de uma família de negócios, não consigo traçar minha árvore genealógica até sei lá quantas gerações, nunca vou gravar um episódio de um certo podcast pedindo perdão pelos crimes dos meus avós ou coisa parecida. mas sou filha de servidores públicos que foram esquerdistas na sua vida universitária. não sou a primeira geração da minha família a ir para a universidade, mas sim, a segunda.  muitos dos livros que eu mais tenho gostado dos últimos tempos tratam da primeira geração. a tetralogia, a ernaux, o sobre a terra somos belos por um instante, por aí vai. leio esses livros e penso nos meus pais. minha mãe é do interior do ceará: nasceu no cariré, o google me informa que em 2020 a população ia lá por seus dezoito mil e poucos habitantes. ainda criança, a família se mudou para sobral, para nós, cearenses, os estados unidos de sobral. não devia ser muito assim na época. aos dezoito anos, minha mãe sai...

esse texto não vai ser legal porque estou ruim com as palavras

hoje eu falei no twitter que algo que me incomoda quando eu estou num mau período de leitura é ouvir outras pessoas falarem de livros e desejar a sensação da leitura. um mau período de leitura é um período de desconcentração: nenhum livro é terminado, começo vários, pulando de primeiras em primeiras páginas, obras distintas, lendo capítulos aleatórios quando é possível, coletâneas de ensaio nunca terminadas. é um mau período de leitura, mas apenas porque me frustra – a realidade é que ler um parágrafo de algo já é ler alguma coisa, por pior que possa parecer, dá pra ter uma ideia com um parágrafo.  mas pensar no desejo da leitura. eu sinto tanto prazer ouvindo pessoas fazerem boas elaborações sobre suas leituras. falarem dos seus interesses, da bibliografia e da biblioteca de cada um. quando escuto alguém falando coisas interessantes sobre algo que leu, ou quando escuto alguém falando de forma emocionada sobre algo que leu – essas coisas costumam se confundir, nos meus ouvidos –, e...

outros jeitos de usar a boca? não, obrigada

você tem doze anos e quer beijar o seu melhor amigo. você mentiu para o seu grupo que já tinha beijado de língua um rapaz que conheceu em sobral nas últimas férias. vicente, o nome dele. coitado. vicente era muito simpático e vocês tomaram banho de rio e ele deveria ter uns dezesseis, dezessete anos e durante um dia inteiro você se apaixonou profundamente por ele e adoraria que ao final do dia, sentados nos balanços, vicente fizesse que nem nos livros e nas fanfics que você lê e se inclinasse e segurasse seu queixo e explorasse sua boca com a língua  ou outro jargão do tipo. não foi o que aconteceu. então de volta à escola e ao seu melhor amigo e ao fato de que você nunca beijou na boca, mas ou ninguém sabe ou todo mundo desconfia que você está mentido, e ele nunca beijou na boca e todo mundo sabe. vocês começam a dar selinhos muitas vezes. é uma época importante na escola, o festival de artes e criatividade . legal. você quer saber é de beijar na boca. esse período vai fazer com q...

sensível demais, eu sou um alguém que chora

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  quando eu era criança, não podia ouvir as músicas rosa de hiroshima e lamento sertanejo. ouvi-las fazia meu nariz coçar de imediato e meus olhos lacrimejarem. às vezes, conto algo da minha infância ou da minha adolescência e olho para mim mesma com quase trinta anos e lembro de dom casmurro, quando o bentinho fala da capitu como fruta dentro da casca . nós somos mesmo as pessoas que somos. e olha que a gente muda bastante no caminho. mas muitas promessas estão feitas ali. às vezes boas, às vezes ruins.  um relatório da infância: fui uma criança quieta e sozinha. ou falante e sozinha. irritantemente falante, esquisitamente sozinha. isso é meia verdade. até os seis anos de idade, quando entrei na primeira série, tive que ser trocada de escola todos os anos, meus pais não davam conta de não apenas eu não fazer amigos como eu ser tratada com tanta, digamos, hostilidade  pelas outras crianças. mas eu era chata. coitada. chata e esquisita e gorda para os parâmetros infantis. ...

pensamentos por todos os lados

será que eu sou legal? será que eu sou bonita? será que eu sou simpática? ou: você me acha legal, bonita, simpática, charmosa e boba, boba, muito boba demais da conta por todas essas perguntas?  hoje eu tive análise e falei pra analista que comeria o pomo da discórdia pra não ter que tomar uma decisão. é mentira. não foi isso o que eu disse, mas assim fica melhor no registro. a verdade é que estávamos falando sobre prêmios, eu comeria o pomo da discórdia pra não premiar ninguém, nem a mim mesma.  também na análise falei sobre estar escrevendo no blog. sobre estar melhor na dissertação do que já estive antes. bom, alguma coisa é melhor do nada, então nesse sentido estou mesmo melhor na dissertação. mas falei sobre essa coisa do ritmo da escrita. como aqui eu fico feliz pela liberdade. meus parágrafos parecem não ter conexão alguma. posso pular de tópico em tópico sem medo de cair. hoje eu escrevi um pouco bem pouco na dissertação, mas de novo, um pouco bem pouco é melhor do que...

um estudo sobre mãos

estou roubando esse título. embora não pareça ser um título nada complicado, quero deixar o registro de que, em 2013, a amiga de brasília com quem eu não me sentia tão bem escrevia uma narrativa autobiográfica sobre seu romance com um outro brasileiro que ela conheceu em londres. ela escrevia em inglês, e o título, claro, era a study about hands . eu me sentia muito comovida pela história. queria ler os acontecimentos e queria ler como ela via os acontecimentos. ela não revogou meu acesso ao documento, então ano passado, dez anos depois da nossa breve amizade, eu lembrei da existência do estudo sobre as mãos daquele rapaz e fui reler. tinham algumas coisas novas. gostei de ler as coisas novas, que não sei o quão novas eram, de fato. gostei de reler o que já sabia, também. eu gostava do nome. um estudo sobre mãos. ela também escrevia fanfic, claro. seu casal principal de fanfics era jon/arya.  eu também queria fazer um estudo sobre mãos. um estudo sobre as minhas mãos: depois de com...

cogitando ser narcisista do jeito não doentio (talvez) pelo tanto que eu gosto de falar

estou querendo sair pra dançar.  como uma pessoa que se recuperou da timidez, mas ainda não completamente, dançar é algo difícil pra mim. em uma festa, é preciso uns instantes até que eu consiga me soltar. e pode ser que nem aconteça de. eu lembro a primeira vez que eu dancei em uma festa. foi em uma balada no ano de 2014. eu ainda tinha dezenove anos. minha amiga mercúrio tinha recém feito dezenove anos também. o lugar era no rio vermelho. estava tocando rockzinho indie da época. estávamos com outras pessoas, leonardo, um amigo de mercúrio, e acho que mais alguém, ou alguéns, talvez pessoas mais próximas do leo, mas eu não consigo lembrar bem de ninguém além dela. lembro de estarmos uma de frente para outra. tenho certeza de que, obviamente, em algum momento tocou what you know .  lembro de estar muito feliz. eu estava muito feliz porque estava com ela e porque estava dançando com ela e porque estava dançando. e eu nunca tinha conseguido dançar em festas. eu sou desengonçada....

minha garganta está horrível pela amplitude térmica enfrentada num mesmo dia

 estou decidida a ir embora de brasília. essa decisão não é nada súbita. é uma decisão para daqui a dois anos, ou talvez até mesmo quatro, dependendo do andamento do doutorado (sim, é pra rir mesmo: mal dou conta da dissertação e já estou pensando nisso). é para daqui a tanto tempo que é um bom tempo de preparação e planejamento, e também tempo suficiente para que no fim das contas eu nem vá embora de brasília por uma razão ou por outra. enfim, é um plano esquisito. um plano que tinha sumido dos meus pensamentos. antes, preciso fazer uma recapitulação. vim para brasília com dezessete anos. fevereiro de 2012. quando eu morava em fortaleza, vivia falando sobre ir embora. era fascinada por isso. em um dos meus cadernos, havia a história de uma menina que ia estudar letras em ouro preto, saída do ceará, sozinha, indo morar em uma república com todo tipo de universitário divertido. um pouco diferente de ir estudar direito em brasília morando com seus pais. mas ainda assim, havia algum i...