cogitando ser narcisista do jeito não doentio (talvez) pelo tanto que eu gosto de falar

estou querendo sair pra dançar. 

como uma pessoa que se recuperou da timidez, mas ainda não completamente, dançar é algo difícil pra mim. em uma festa, é preciso uns instantes até que eu consiga me soltar. e pode ser que nem aconteça de. eu lembro a primeira vez que eu dancei em uma festa. foi em uma balada no ano de 2014. eu ainda tinha dezenove anos. minha amiga mercúrio tinha recém feito dezenove anos também. o lugar era no rio vermelho. estava tocando rockzinho indie da época. estávamos com outras pessoas, leonardo, um amigo de mercúrio, e acho que mais alguém, ou alguéns, talvez pessoas mais próximas do leo, mas eu não consigo lembrar bem de ninguém além dela. lembro de estarmos uma de frente para outra. tenho certeza de que, obviamente, em algum momento tocou what you know

lembro de estar muito feliz.

eu estava muito feliz porque estava com ela e porque estava dançando com ela e porque estava dançando. e eu nunca tinha conseguido dançar em festas. eu sou desengonçada. e sou grande. me falta ritmo para bater palmas, até o coração deve bater descompassado. dançar me parecia impossível: eu não sei me mexer. eu ainda não sabia me mexer, lá. eu ainda não sei me mexer, aqui. mas mesmo sem saber, fazemos as coisas. eu não sabia me mexer, mas sabia pular e cantar as músicas, e sabia segurar as mãos de mercúrio, e desorganizadamente, sem graça alguma, meu corpo descobria o prazer dessa alegria tão pura, tão fácil uma vez que você começa. bastava o primeiro passinho. fiquei molhada de suor. ficamos molhadas de suor. ficamos cansadas. subimos pro segundo andar da boate, eu me deitei em cima da mesa, ou mercúrio se deitou em cima da mesa, e mercúrio se deitou sobre mim, ou eu me deitei sobre mercúrio, como coalas, ela disse na época, como coalas, eu repito dez anos depois. e aí, cercadas por toda aquela música, com os músculos doloridos, dormimos.

dormir depois de dançar é muito bom. eu ainda me surpreendo, com um enorme sorriso, que tenhamos dormido ali. fomos acordadas por um dos seguranças, avisando que o local ia fechar. duas garotas de dezenove anos, destinadas a dormirem juntas por cima de uma mesa por cima da outra em uma boate no rio vermelho. eu amo você, mercúrio. quero dançar com você de novo.

seria bom poder escrever que dançar com mercúrio me destravou para dançar em qualquer lugar, mas não foi assim. por muito tempo, dançar com mercúrio foi ter dançado. eu dizia a ela: eu nunca tinha dançado antes, não assim. o mundo se abre quando você dança com alguém que ama. 

depois de um tempo, comecei a conseguir dançar. nunca fui em muitas festas na vida. muitas vezes fui para ficar parada. algumas vezes conseguia dançar. acho que agora consigo dançar quando vou em festas porque vou com esse objetivo na cabeça: eu vou dançar. eu vou dançar e vai ser ridículo e vai ser legal, porque eu não tenho medo de ser ridícula. ou melhor, eu até tenho, mas não importa, e não importar é fundamental para os medos ridículos. eu quero muito sair pra dançar. alguns dias depois de terminar um namoro, saí pra dançar com amigos. uma coisa bem fest de la fest, mas os ingressos estavam comprados antes do fim do namoro, se isso conta para algo. de toda forma, a sensação foi tão intensa, de um jeito tão óbvio e tão clichê. era fundamental estar ali dançando e pulando e cantando. quando cordeiro e koba vieram me visitar de são paulo, fomos em festas dois dias seguidos. foi uma coisa doida. foi uma delícia. minhas panturrilhas doíam e fiquei dias sem voz. queria tudo isso de novo.

eu acho que uma das coisas boas, realmente boas, de ficar mais velha é que mesmo que seu corpo fique mais cansado, dá pra fazer mais do que se fazia com dezenove anos. pelo menos, eu. lamento um pouco por todo o tempo dos vinte anos que não dancei. tantas oportunidades perdidas. mas agora eu danço! pateticamente. e feliz.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

outros jeitos de usar a boca? não, obrigada

primeiro eu quero falar de sexo

sensível demais, eu sou um alguém que chora